Menino especial
Menino especial
Não me lembro direito do dia em que conheci Diogo, mas lembro me com detalhes das tardes em que passava em frente a sua casa e o encontrava sempre encostado no portão. Várias vezes eu tentei chamar a sua atenção com minhas caretas mais esquisitas. Um dia ele riu de uma brincadeira que eu fiz com os olhos e essa foi a senha para ficarmos amigos.
Todos os dias eu parava naquele portão e conversava com Diogo sem pressa e sem nenhuma cerimônia. Falava da vida, dos passáros, do jeito engraçado dos seres humanos andarem pelas ruas, sempre apressados, nervosos….
Lembro que ríamos demais dos “celulosos”. Celulosos são aqueles malucos e malucas que andam pelas ruas, falando e gesticulando com o celular na orelha. Alguns são tão “malucos e irresponsáveis” que falavam enquanto dirigiam. Coisa de seres racionais, de gente “normal???”.
Uma vez, Diogo riu tanto que sua mãe saiu de lá preocupada com aquele riso que parecia sufocar o filho. Desse dia em diante, ela passou a acompanhar a nossa amizade e uns dias depois, me convidou para entrar e ficar mais perto do Diogo. Comecei a trazer livros e contar histórias. A história do Lobo Mau e os 3 porquinhos era a sua preferida. Acho que era porque eu ficava até sem fôlego, imitando o sopro do Lobo Mau e derrubando uma casinha de palha imaginária.
Tudo era perfeito em nosso mundo de amizade. Eu aprendia muito com esse menino muito especial, que vivia em uma cadeira de rodas, que só tinha 10% de visão em uma vista. Que não falava, mas tinha um amor tão grande, uma força de vida, que eu não conseguia entender. Era tanta força de vontade, tanta alegria, que eu me sentia envergonhado de reclamar da vida e dos pequenos problemas que eu tinha. Aprendi a superar as dificuldades que apareciam com a certeza de que Deus habita em cada um de nós. Como me lamentar de qualquer coisa, tendo saúde e membros perfeitos?
Diogo me ensinou muito. Dividíamos a vida com a certeza de que a alegria é o motor da felicidade. Só não descobri, porque seu olhar ficava fixo em um canto. Que será que ele via e eu não conseguia ver? Sempre quis perguntar, mas nunca sobrava tempo…
Um dia, veio a notícia de uma mudança urgente para outro Estado. Só pude me despedir no dia da viagem, muito rapidamente. Até hoje, lembro-me do seus bracinhos dando adeus pelo vidro do carro. Nessa noite, sonhei com Diogo. Nesse sonho ele ria muito, como se agradecesse os momentos felizes que passamos juntos. Eu dizia que era eu quem agradecia aqueles momentos maravilhosos. Ele olhou para aquele canto fixo, onde seus olhos se acostumaram a olhar, e me pediu para virar de costas. Foi aí que eu pude ver um brilho enorme naquele canto. Quando meus olhos se acostumaram com tanta luz, eu pude ver Jesus que sorria docemente para mim e apontava Diogo como exemplo de amor e perseverança.
E eu nunca mais esqueci o meu amigo Diogo!.
Minha homenagem a todos os pais de crianças especiais que lutam por seus filhos.
Eu acredito em você!
Paulo Roberto Gaefke